Em síntese: Délio Pinheiro tem 30 anos. É jornalista há três anos e radialista há quinze. Atua também como assessor de imprensa, em duas cidades do Vale do Jequitinhonha; cerimonialista, na prefeitura de Montes Claros; apresenta um quadro em um programa de TV na retransmissora da Cultura também em Montes Claros, cidade onde reside. É nascido em Serranópolis de Minas. Já lançou um livro de poesias e tem projetos bem adiantados nas áreas do conto, crônica e romance.
Em prosa: Antes de qualquer coisa sou caos. Mas também sou silêncio nas noites regadas a blues. Sou fotografia analógica, sou fusível, sou vinil e filmes em preto e branco. Sou história muito mais que geografia. Sou mil vezes literatura a qualquer tipo de arte. Portanto sou livros, muitos livros. Sou mais livros que cinema. Sou de fazer listas para tudo, menos para fazer compras. Sou vintage e sou saraus. Sou café forte, muito forte, quente e em boa companhia. Não sou água mineral com gás. Sou cheiro de mofo, sou revistas antigas e sou páginas amareladas. Sou fazer poesias nas madrugadas, sou acordar com cara de sono. Não sou dormir com nenhum barulho, que não seja o eco de meus sonhos. Sou finais de semana na roça, mas apenas finais de semana. Sou cachoeira muito mais que praia. Sou apenas o pseudônimo do que pretendo ser, e sou anônimo em minha relativa notoriedade. Sou velocidade. Sou informação. Não sou demonstrações de afeto, embora me farte deles. Sou um eterno aprendiz de violão, que está pousado num canto de meu quarto, como um mausoléu de melodias. Sou hiperatividade cerebral. Gostaria de ser trabalho voluntário. Gostaria de trabalhar menos. Sou começar a malhar, para depois me entregar à ociosidade. Sou viajar. De preferência sem rumo. Mas muito bem acompanhado. Sou Bach, manhãs de domingo, Goethe, Google, Kafka, cerveja gelada, jornais empilhados, papo cabeça, Chico Buarque, cinema europeu, rock, chiado de vinil, Jack Daniels, lojas de conveniência nas madrugadas. Sou as paisagens que vi, as pessoas de cuja companhia desfrutei. Não sou bate-bocas. Não sou cinto de segurança. Sou jornalismo e sou absolutamente apaixonado por essa profissão. Sou cobrir alguma guerra, embora torça para que elas não aconteçam. Sou Minas. Sou Cruzeiro. Sou Clube da Esquina. Sou jeans. Não sou discutir a vida alheia. Não sou horário de verão. Sou água quente no chuveiro em qualquer estação. Não sou fanatismo de qualquer espécie. Não sou protocolos. Não sou formalidades. Não sou inveja. Sou escrever. Sou ouvir. Não sou carne. Não sou carência de nenhuma espécie. Não sou saudade. Não sou fantasmas do passado. Não sou carnaval.
PUBLICAÇÕES
* “Não há rumos, só há rimas - Poesias desvairadas e sonetos imprecisos”- Livro de poesia, lançado pela Editora Unimontes.
* Dezenas de crônicas publicadas na imprensa mineira.
*Finalista no concurso nacional de novos Contistas da revista Bravo!: http://bravonline.abril.uol.com.br/indices/materias/materia_253833.shtml
CONTATOS: deliopinheiro@ig.com.br
CONHEÇA O TRABALHO DO AUTOR
“Benícia das latas
Benícia vivia de juntar latinhas. Para ela não tinha tempo ruim. Nem chuva nem sol a impediam de cumprir seu trabalho silencioso, tanto nas ruas fustigando latas de lixo como nos shows que sempre aconteciam naquele bairro boêmio onde trabalhava.
Benícia gostava mais dos shows sertanejos. Era quando se jogava mais latinhas no asfalto e também nos cestos de lixo. Ela também gostava de música sertaneja e algumas vezes se permitia olhar um cadinho para o cantor ou a dupla que se apresentava. E chegava a cantar trechos de “Menino da porteira” e “Rio de lágrimas”, que para ela e para todos era “Rio de Piracicaba”.
Benícia nunca fora a Piracicaba e a nenhum lugar a mais de cinqüenta quilômetros de sua cidade do interior de Minas. Nem quando ela ficara sem fôlego de repente e não havia chá ou ungüento que dessem jeito e seu caso hospitalar foi considerado irreversível, ela quis deixar sua Janaúba. “Se você não for se tratar em Montes Claros você não vai durar nem seis meses”, predissera o médico há quase cinco anos.
Mas Benícia, naquele dia em que recebeu a notícia, não foi buscar a ficha de internação que o médico colocara a sua disposição no posto de saúde de seu bairro. Era carnaval e ela preferiu ir para a Praia do Copo Sujo recolher suas latinhas.
O médico dissera que o coração de Benícia estava quase do tamanho de um balão cheio, desses de festa infantil. Mas Benícia decidiu, em sua humildade silenciosa, que seguiria com seu trabalho até quando Deus quisesse. E aquele foi um carnaval especial. Um número bem maior de turistas invadiu a cidade ribeirinha e espalhou latinhas de cerveja por todos os lados.
De música baiana Benícia não gostava, e era justamente esse tipo de música que animava o carnaval por lá. Ela era do tempo em que as antigas marchinhas comandavam as folias momescas e às vezes chegava a cantar baixinho, pra si mesma, essas canções, enquanto juntava suas latas, coberta pelo manto da invisibilidade dos trabalhos humildes.
No fim das contas, na quarta-feira em que tudo vira cinza, e com uma baita dor nas costas, Benícia faturou quase cinqüenta reais vendendo suas pepitas de latão na usina de reciclagem. Nunca ela ficara com tanto dinheiro no bolso. Neste dia, Benícia comprou um saboroso wafer de morango e para acompanhar se deu ao luxo de comprar uma refrescante lata de Coca Cola.
Benícia então se lembrou que tinha um coração grande, do tipo que só faltava explodir, e sorriu resignada. Ela foi a pé para sua casa no bairro distante e sem asfalto. No caminho se deparou com um menininho sujo e magrinho, que levava consigo um pequeno saco de linhagem, onde colocava latinhas de refrigerante e cerveja que encontrava pelo caminho.
Benícia chamou o menino e jogou a lata de Coca para que ele a guardasse consigo. O menino agradeceu e Benícia seguiu seu caminho, arrotando divinamente seu wafer de chocolate e sentindo pulsar, bem ali, sob suas vestes modestas, seu coração grandão.”
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